Definição
O cancro da próstata é o segundo cancro mais frequente no homem e o segundo com maior mortalidade a nível mundial.
A próstata, apesar de muitas vezes esquecida, é um órgão pequeno e em forma de noz, localizado anteriormente ao recto, junto à base da bexiga a rodear a uretra, que no homem produz o fluido seminal que alimenta os espermatozóides, fulcrais na reprodução.
Sintomas
O cancro da próstata geralmente cresce devagar e inicialmente fica limitado à glândula prostática sem causar sintomas ou sinais na maioria das vezes, mas existem certos tipos de cancros de próstata, agressivos, que se podem espalhar rapidamente, daí a importância do diagnóstico precoce, ou seja, enquanto o tumor está limitado à próstata, pois tem melhor hipótese de cura.
Causas e fatores de risco
Não se sabe ao certo qual a causa do cancro da próstata. Sabe-se que células anormais começam a crescer mais rapidamente que as normais e começam a acumular-se, mais tarde a invadir os tecidos em redor, e por fim a espalhar-se pelo corpo (metástases). Os factores de risco conhecidos são a idade avançada, raça negra, história familiar de cancro da próstata e a obesidade. O cancro da próstata é conhecido como o “tumor dos idosos”, pois é mais frequente em homens com mais de 65 anos, havendo estudos que demonstram a presença de células tumorais na próstata em mais de 90% dos homens com mais de 90 anos, mas nem todos agressivos e a necessitar de tratamento. A história familiar e a obesidade estão associadas a formas mais precoces e mais agressivas de tumores.
Diagnóstico
Apesar do rastreio do cancro da próstata não estar indicado, é aconselhado aos homens, particularmente os saudáveis e sem sintomas, realizarem exames que permitam um diagnóstico precoce, nomeadamente o PSA e o toque rectal.
Homens com história familiar de cancro da próstata são aconselhados a serem avaliados a partir dos 40 anos e os restantes homens, se assintomáticos, a partir dos 50 anos. Homens com mais de 75 anos, assintomáticos e com valores de PSA inferiores a 3,5ng/ml, não necessitam de fazer vigilância ou rastreio para cancro da próstata, pois não existe benefício nestes casos.
Além de avaliar a presença de factores de risco, história familiar, presença ou ausência de sintomas e/ou sinais, os exames essenciais são:
PSA (antigénio específico da próstata): análise de sangue onde se pesquisa a presença desta enzima que é produzida na próstata. Pode estar aumentado com infecção, inflamação, aumento de volume próstata ou cancro. Os valores de referência variam de acordo com idade e tamanho de próstata.
Toque rectal: exame da próstata através do recto, utilizando um gel anestésico, para avaliar anormalidade dos contornos, textura. Como 70% dos tumores da próstata são periféricos, ou seja poderão ser palpáveis, este exame é de extrema importância.
Como ambos os exames isoladamente têm uma baixa capacidade de diagnóstico deve-se sempre realizar os dois, aumentando assim a probabilidade de detecção.
Se o toque rectal for anormal e/ou se o valor do PSA estiver alterado, deve-se então fazer uma biópsia da próstata. A biópsia realiza-se guiada por ecografia com uma sonda transrectal, ou seja através de imagem, com anestesia local. São recolhidos fragmentos de tecido prostático que são posteriormente analisados, para determinar ou não a presença de cancro.
Biópsia da Próstata: e se for negativo?
Se a biópsia da próstata não revelar tumor, deve-se manter vigilância, através da repetição em intervalos regulares do PSA. Se esse continuar a subir, sem outras causas aparentes (infecção, traumatismo, etc..) poderá ser necessário realizar outros exames, nomeadamente genéticos (PCA3), ou mesmo repetir a biópsia, pois poderá significar que existe tumor a desenvolver-se.
Biópsia da Próstata: e se for positivo?
A biópsia é fundamental pois não só permite o diagnóstico de cancro, como permite avaliar a agressividade do mesmo, utilizando uma escala chamada Gleason Score (entre 2 – não agressivo, a 10 – muito agressivo).
Posteriormente é necessário avaliar a extensão do mesmo, ou seja se está limitado à próstata (potencialmente curativo) ou se já disseminou para fora desta (metastizado, logo não curativo), e para tal são necessários vários exames, nomeadamente Cintigrafia óssea, TC abdominal e pélvica (Tomografia Computarizada), RMN abdominal e pélvica (Ressonância Magnética).
Só com estes exames é que se poderá estadiar o cancro e assim determinar as opções terapêuticas:
Baixo risco (localizado e pouco agressivo): nestes casos o tratamento será com intenções curativas. Poderá passar por vigilância activa, cirurgia, braquiterapia ou radioterapia.
Risco intermédio (localizado e agressivo): nestes casos o tratamento também será com intenções curativas, mas passa por cirurgia ou radioterapia.
Risco elevado (localmente avançado e/ou muito agressivo): é necessário avaliar caso a caso, ponderar riscos e benefícios dos tratamentos, mas em alguns casos a cirurgia ou a radioterapia associado a tratamentos complementares hormonais, poderão oferecer hipótese de cura.
Risco muito elevado (invasão local/ metastizado): nestes casos a doença já não permite a cura, mas como 95% dos cancros da próstata são hormonosensíveis, ou seja respondem a bloqueio hormonal, é possível controlar a doença por vários anos, dependendo sempre do estadio imagiológico da doença (número e local de metástases, presença de sintomas).
Tratamentos
Como já referido anteriormente os tratamentos possíveis para o cancro da próstata dependem de vários factores: do tumor, da saúde do doente, riscos e benefícios dos tratamentos e respectivos efeitos secundários.
De uma forma resumida os tratamentos possíveis são:
Vigilância ativa: nos casos de tumores muito pouco agressivos, e pequenas dimensões, poderá ser oferecido a oportunidade de vigiar de forma muito rigorosa e à mínima evidência de progressão da doença avançar para um tratamento curativo definitivo. Permite em alguns casos ganhar alguns anos sem os efeitos secundários dos tratamentos.
Cirurgia – Prostatectomia Radical: é o tratamento de referência para tratamento do cancro da próstata localizado. Consiste na remoção total da próstata e vesículas seminais e se indicado remoção dos gânglios linfáticos vizinhos. Pode ser realizada por via clássica, aberta (incisão mediana infra-umbilical com cerca de 7-10cm) ou por via laparoscópica (minimamente invasiva, com cinco pequenas incisões inferiores a 1cm cada, recorrendo a câmaras de alta definição que permite a realização da cirurgia). Como efeitos secundários possíveis salienta-se o risco de incontinência urinária e a disfunção eréctil, que depende não só da abordagem cirúrgica, mas também do estadio do tumor.
De acordo com a minha experiência profissional, na cirurgia aberta, acima de 95% dos doentes ficam sem perder urina (continentes) e cerca de 50% mantêm actividade sexual.
Na cirurgia laparoscópica, além da vantagem estética, de menos dor no pós-operatório e uma recuperação mais rápida, com internamento mais curto (3 dias em média), de acordo com minha experiência, 98% ficam continentes e cerca de 70% mantêm actividade sexual.
Radioterapia: consiste na utilização de altas doses de energia, radiação, para matar as células cancerígenas. Como efeitos secundários possíveis pode surgir dor a urinar, urgência a urinar, sangue na urina, incontinência fecal, incontinência urinária e disfunção eréctil. Pode igualmente aumentar o risco de outros cancros.
Esta pode ser realizada de duas maneiras.
Radioterapia externa: máquina onde o doente se deita, que envia raios de alta energia para a próstata.
Braquiterapia: em casos seleccionados de tumores de baixo risco e pequenas dimensões, pode-se introduzir sementes radioactivas no interior da próstata guiadas por ecografia, que liberta radiação ao longo de um período de tempo.
Tratamento hormonal: também conhecido por castração química. Limitado aos doentes já com doença disseminada, metastizada, ou em doentes que por outros motivos não têm indicação para tratamento curativo. Sendo o cancro da próstata hormonosensível, ou seja depende da testosterona para crescer, pode-se desta forma controlar a doença, atrasando a sua progressão. Em vez da castração química, pode-se realizar a castração cirúrgica (orquidectomia – remoção dos testículos).
Prevenção
Não existe uma fórmula milagrosa que evite o aparecimento e o desenvolvimento do cancro da próstata. Contudo os estudos demonstram que o risco pode ser diminuído através de dieta saudável, rica em vegetais e fruta evitando comidas ricas em gordura, exercício físico e evitar o excesso de peso.
Com o aparecimento do PSA, uma melhoria dos exames de imagem e diagnóstico, uma muito maior informação e sensibilização dos homens, foi possível ao longo dos tempos aumentar drasticamente o número de diagnósticos de cancro da próstata numa fase inicial, logo curativa.
O primeiro passo depende sempre de si. Procure o seu médico.
Frederico Teves
Assistente Hospitalar de Urologia
Hospital Santo António - Porto